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Como criar um roteiro de entrevista para Pesquisa Qualitativa

Na pesquisa qualitativa, o roteiro das entrevistas é um dos documentos mais importantes, e normalmente muito subestimado ou deixado por último. É ele que orienta as perguntas que o pesquisador faz a um participante ou grupo focal, funcionando como uma bússola para que a entrevista não se perca, mas sem engessar o processo.


E aqui está o primeiro ponto essencial: um roteiro de entrevista não é um script. O bom pesquisador sabe equilibrar duas habilidades aparentemente opostas: deixar o participante falar livremente, explorando tangentes que podem enriquecer os dados, e trazer a conversa de volta ao núcleo da pesquisa.


Neste post, vou mostrar os cinco passos para estruturar um roteiro eficaz.


1. Defina o objetivo e a questão essencial


Antes de escrever qualquer pergunta, é preciso clareza absoluta sobre o que você busca na pesquisa.

  • Qual é o objetivo central?

  • Que hipóteses estão sendo testadas?

  • Qual é a questão essencial, aquela que, se só uma resposta fosse possível, já justificaria todo o estudo?


Ter essas respostas alinhadas com os envolvidos garante que o roteiro mantenha foco e coerência.


2. Construa uma boa introdução


A abertura da entrevista é o momento de criar vínculo e estabelecer confiança. Aqui você deve:

  • Explicar o propósito do estudo e o tempo de duração.

  • Reforçar questões de confidencialidade e uso dos dados.

  • Definir regras básicas (no caso de grupos, como respeitar turnos de fala e não buscar consenso).


Vale ainda incluir uma pergunta quebra-gelo, de preferência relacionada ao tema, para relaxar os participantes.


3. Comece com perguntas gerais


Um roteiro de entrevista deve funcionar como um triângulo invertido: começa amplo e vai se afunilando.


As perguntas iniciais ajudam a captar percepções espontâneas sobre o tema antes de trazer conceitos ou termos técnicos. Exercícios de associação livre, por exemplo, são ótimos para ativar repertórios e dar ao pesquisador um panorama do imaginário dos participantes.


4. Avance para perguntas específicas


Depois de aquecer o campo, chega a hora de focar. Essa é a parte em que:


  • O participante interage com um produto, serviço ou conceito (se for um teste de uso).

  • O moderador trabalha para explorar em profundidade a questão essencial.


Aqui, o papel do pesquisador é duplo: evitar perguntas enviesadas e, ao mesmo tempo, aprender a escutar ativamente. Projetivos e dinâmicas podem ser usados para acessar camadas menos racionais da experiência.


5. Feche a entrevista com clareza


O encerramento deve:

  • Testar percepções finais sobre a marca ou conceito (se aplicável).

  • Explorar decisões práticas, como formas de compra, canais de informação ou critérios de escolha.

  • Dar ao participante a sensação de fechamento, ligando as pontas soltas do diálogo.


Essa fase é estratégica porque, ao contrário do início (quando o participante fala de forma mais livre), aqui é possível colher respostas mais diretas sem risco de enviesar os dados.


Por que investir tempo no roteiro?


Um bom roteiro de discussão exige de 5 a 8 horas de preparação. Não é apenas sobre pensar em perguntas, mas sim sobre:

  • A ordem em que elas aparecem.

  • O equilíbrio entre momentos abertos e dirigidos.

  • As atividades que estimulam respostas mais ricas.

  • As indagações que realmente podem te direcionar a cumprir com os objetivos da pesquisa.


E, acima de tudo, é sobre praticar: conhecer o roteiro de cor dá liberdade para navegar na entrevista sem perder o fio da pesquisa.


👉 No fim, o roteiro não serve apenas para organizar a entrevista. Ele é um exercício de reflexão sobre a pesquisa em si: seus objetivos, seus limites e o que realmente importa descobrir.

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